Por séculos religião tem sido baseada em um sistema de crenças e práticas que buscava ensinar indivíduos como desenvolver um relacionamento com Deus. Tal abordagem proveu à religião organizada poder para não apenas guiar a espiritualidade de muitas pessoas, mas praticamente cada aspecto de suas vidas. O sistema parecia ser próspero, mas aparentemente não foi capaz de prever a ascenção dos Millenials, uma geração que abalaria os fundamentos da religião e iniciaria uma revolução espiritual que atualmente levanta questões sobre como a religião continuará a moldar a sociedade, ou se a religião organizada é realmente relevante ou necessária no contexto social.
A ascenção da geração de Millenials—indivíduos nascidos entre 1980 e 2000—representa não apenas uma reavaliação de como a espiritualidade é praticada, mas o princípio de uma era onde pessoas, não instituições, determinam o curso da fé, suas práticas e crenças. Millenials estão mudando a religião mais do que a religião está mudando millenials, e a manutenção e própria sobrevivência da religião organizada será em grande parte determinada pela habilidade das instituições religiosas de humildemente dar um passo para trás e ouvir, assim como dar um passo à frente e mudar.
Tecnologia, o idioma nativo dos Millenials
Talvez o principal ponto que diferencia tal geração de seus predecessores é o fato desta geração ter nascido e crescido em uma época de dramática revolução tecnológica. O acesso facilitado para receber e compartilhar informações tem sido um fator crucial em determinar o desenvolvimento da mentalidade dos Millenials, e na maioria dos casos, tal plano de fundo tecnológico—onde todos os tipos de informações cabem no bolso e podem ser acessadas com a ponta do dedo—tem também exposto conflitos entre a abordagem religiosa para com problemas políticos e sociais e tem moldado a percepção de que espiritualidade não requer paredes e diretrizes para ser exercitada.
Se a religião por certo tempo confiou na habilidade de esconder ou destruir os eventos obscuros de sua história, a tecnologia, por outro lado, criou maneiras de eternizar tais informações, provendo a Millenials as ferramentas necessárias para encontrar, analisar e formar uma opinião sobre os ensinamentos e crenças de diversas religiões no decorrer da história. Daniel P. Horan, em seu artigo "Striving Toward Authenticity", fortaleceu este ponto declarando que os avanços tecnológicos das últimas décadas mudaram para sempre a maneira com que vemos o mundo, interagimos com outras pessoas e entendemos a nós mesmos.[1]
Sendo a tecnologia o fundamento do desenvolvimento humano e a essência da mentalidade dos Millenials, fica evidente que ela continuará a moldar a abordagem crítica do pensamento religioso das futuras gerações, mas é incerto se as religiões organizadas terão sucesso em acompanhar tais mudanças.
O conflito de valores religiosos com os valores da geração atual
Adicionalmente, um dos problemas principais enfrentados pela religião organizada neste processo consiste na dificuldade de lidar com uma geração que é mais liberal em suas visões de assuntos políticos e sociais. O desafio consiste no fato de que Millenials frequentemente possuem perspectivas liberais para debates morais os quais instituições religiosas asseguram posições estabelecidas, como divórcio, homossexualidade, aborto, o papel da mulher no contexto religioso, etc. De acordo com o psicólogo Jonathan Haidt, pensadores liberais tendem a priorizar e internalizar valores como "o bem" e a "justiça para com todos", ao passo que pensadores conservadores engajam-se na plenitude do sistema religioso.[3] Este conceito é aparentemente confirmado por uma pesquisa do "Pew Research Center", que indica que quase cinquenta por cento dessa geração possuem perspectivas comuns da esquerda, enquanto apenas trinta e quatro por cento se alinham com a visão da direita.[4]
Uma geração que é mais suscetível a portar visões liberalistas será consequentemente mais suscetível a tornarem-se críticos—ou em alguns casos, inimigos—das posições políticas tomadas por instituições religiosas. Para pessoas fora do contexto religioso, isto contribui para uma mentalidade inclinada ao ateísmo e agnosticismo; para religiosos, isto conduz à resistência a diretrizes conservadoras, o que gera oposição dentro da Igreja. Os conflitos e consequências que seguem são imediatos. Millenials tendem a discordar e se opor a medidas religiosas conservadoras sobre temas controversos, criando em suas Igrejas a hostilidade intelectual, abandonando a religião e frequentemente, ambos.
Tal abordagem liberal fortalece na geração de Millenials a crença de que espiritualidade pode existir sem religiosidade, o que força a religião a se adaptar à onda, ao invés de esperar que a geração aceite integralmente seus termos. Richard D. Waters e Denise Sevick Bortree abordaram este conceito explicando que conforme a geração de Millenials envelhece e avanços na tecnologia seguem em frente, uma mudança na forma de agir, não na ideologia, precisa acontecer para que a religião organizada mantenha relevância na sociedade.[5] Como sugerido na pesquisa do Pew Research Center, uma geração liberal e tecnológica significa uma visão mais liberal do mundo, o que obscurece o futuro da religião, mas tráz à luz ao menos uma verdade simples—religião precisa mudar. Millenials não são uma geração de ingênuos; eles são falantes nativos da tecnologia e desenvolveram a habilidade de farejar e combater a propaganda falsa.[6]
Em outras palavras, religião precisa mudar, não para convenientemente se adaptar às crenças dos Millenials a fim de manter suas frequências, mas para eliminar desentendimentos tradicionais, morais e políticos longamente perpetuados, incluindo assim os valores que tal geração respira, que são essenciais para o mundo atual. Millenials tendem a ver a religião como um mecanismo para o bem social; tal mecanismo é considerado inútil se não for empregado para contribuir com uma mudança específica ao mundo. Para um Millenial, não faz sentido frequentar uma Igreja que não age conforme os valores que eles acreditam serem verdadeiros. A religião organizada precisa, neste caso, procurar entender as necessidades dessa geração, genuinamente se esforçando em edificar um ambiente aberto ao debate e adaptação.
Conclusão
Poucas coisas na história da humanidade são mais importantes para a evolução social do que a mudança. Sem mudança e uma genuína busca para entender a necessidade espiritual de cada geração, religião tende a perder seu significado e propósito. Sem propósito, Igrejas não mais são lugares de crescimento espiritual e conexão com Deus, mas meramente edifícios de homens, e seus ensinamentos não mais do que conceitos filosóficos maqueados de espiritualidade.
Uma nova abordagem religiosa adaptada a Millenials precisa incluir um entendimento de valores modernos e assuntos que não são citados nas escrituras. Por ser a linguagem falada por Millenials, tecnologia não deve ser combatida mas abraçada no esforço religioso de promover significado à vida e um relacionamento com Deus. Como um mecanismo de mudança social, religião não deve hesitar em promover seus valores; ao invés disso, deve melhorar o entendimento de tais valores em diferentes cenários, mentalidades e circunstâncias. Apesar de ser verdade que espiritualidade não requer religiosidade para ser praticada, é também verdade que a religião organizada tem por muito tempo sido uma ferramenta poderosa na constante tentativa de unir indivíduos nas mesmas causas. O mundo em que vivemos precisa mais disso.
Uma nova perspectiva à geração de Millenials talvez mostre que religião pode não apenas sobreviver à ameaça da oposição intelectual, mas com o tempo e esforço, encontrar nos Millenials seus aliados mais poderosos.
Referências
[1] Bauman, Whitney, et al. "Teaching The Millennial Generation in the Religious and Theological Studies Classroom." Teaching Theology & Religion 17.4 (2014): 301-322. Academic Search Premier. Web. 20 June 2016
[2] Gladstone, Sarah. "How Can We Reach The Millennials?." Congregationalist 166.3 (2014): 30. MasterFILE Complete. Web. 19 June 2016.
[3] Haidt, Jonathan. "The Moral Roots of Liberal and Conservatives." Ted.com. Ted Talks, March 2008. Web. June 2016.
[4] Horan, Daniel P. "Striving Toward Authenticity: Merton's 'True Self' And The Millennial Generation's Search For Identity." Merton Annual 23.(2010): 80-89. Religion and Philosophy Collection. Web. 17 June 2016.
[5] Kiley, Jocelyn and Michael Dimock. "The GOP's Millennial Problem Runs Deep." Pew Research Center. September 2014. Web. 17 June 2016.
[6] Waters, Richard D., and Denise Sevick Bortree. "“Can We Talk About The Direction Of This Church?”: The Impact Of Responsiveness And Conflict On Millennials' Relationship With Religious Institutions." Journal Of Media & Religion 11.4 (2012): 200-15. Communication & Mass Media Complete. Web. 17 June 2016.
Os comentários são de responsabilidade exclusiva de seus autores e não representam a opinião deste site.
Considerações sobre a origem e uso do símbolo do arco-íris e seu emprego recente à questões LGBT
Uma análise historiográfica do embate teológico entre o Setenta B. H. Roberts e Apóstolo Joseph Fielding Smith acerca da vida e morte antes da queda, teoria da evolução e raça humana pré-Adâmicas
Uma análise do tema cujo objetivo não é relevar ou ignorar os mandamentos de Deus, mas expandir o horizonte de compreensão e fortalecer a inclusão e o amor para com estas pessoas.
Considerações sobre como edificar Sião exige que olhemos o mundo pelos olhos daqueles que decidem partir
A História de crime e engano de Mark Hofmann, um dos maiores falsificadores de todos os tempos
Alguns lembretes importantes para momentos de agitação política.
Onde se explora o significado dos dois conceitos, como identificá-los no estudo cotidiano e dicas sobre como conciliar ambos na busca pela verdade.
Analisando uma das maiores mentiras da filosofia contemporânea
Muitos estão certos de que o corona vírus marca o fim do mundo e o retorno iminente de Cristo. Mas há evidências suficientes para isso? O presente artigo objetiva analisar essas alegações à luz das escrituras, da ciência e da história secular.
Comentários sobre o pronunciamento da Igreja na remoção da restrição aplicada em 2015.
Uma análise de como construir e reconstruir na Igreja o sentimento de irmandade tão presente nos primeiros dias da restauração.
Tal mentalidade é uma fraqueza e deve ser combatida. Seus efeitos fortalecem de maneira superficial a fé de uma minoria ao custo do sofrimento da maioria.
O objetivo principal não é ser de esquerda ou de direita, mas de centralizar nossa vida em Cristo.
Uma abordagem dos problemas e soluções necessárias para a formação de uma geração que verdadeiramente sabe.
Talvez perderemos menos irmãos da fé se passarmos a ser a mudança que desejamos ver na Igreja, ao invés de apenas assistí-la como espectador.
Uma geração liberal e tecnológica representa uma visão mais flexível do mundo, o que obscurece o futuro da religião, mas tráz à luz ao menos uma verdade simples—religião precisa mudar.
Ao nos engajarmos em debates teológicos, devemos nos certificar de que não somos culpados ou vítimas de tais falácias lógicas.
Analisamos nesse artigo a estrutura de quatro argumentos que indicam que sim, Deus existe.
A busca pelo saber nos relembra que são as perguntas, não as respostas, que movem o mundo
Ao visitar e acompanhar ao vivo hoje mais uma Conferência Geral da Igreja de Jesus Cristo dos Santos dos Últimos Dias, tive o grande privilégio de sentir o Espírito de Deus através da beleza do Templo de Salt Lake City.
Vivemos em um mundo de aparências. Um mundo que promove a cultura da futilidade com aparência de glamour e distorce nossa percepção daquilo que realmente importa e merece atenção.
Em 1997, quando a Internet dava ainda seus primeiros passos, um grupo de membros da Igreja de Jesus Cristo dos Santos dos Últimos Dias engajados na defesa da fé através de fóruns online.
Durante nove meses elas com dores nos carregaram, com um sorriso receberam nosso choro, com paciência nos ensinaram a andar, com suas mãos nos levantaram, com seus joelhos no chão oram por nós, sofrem com nossas derrotas, comemoram as vitórias e nos ajudam a compreender o amor incondicional de Deus.
Em um mundo de constante desenvolvimento tecnológico, barreiras antes instransponíveis tem sido superadas e distâncias encurtadas, tornando o acesso à informação do presente e passado uma tarefa relativamente fácil, que normalmente exige apenas o clique de um mouse.
Recentemente, muito tem sido comentado a respeito da forma com que A Igreja de Jesus Cristo dos Santos dos Últimos Dias utiliza e administra seus recursos financeiros, levando alguns membros da Igreja a um choque de opiniões e conclusões precipitadas baseadas em grande parte em mentiras, verdades, meias verdades e consequentemente, conclusões tendenciosas.
Ao nos aproximarmos da Conferência Geral, período em que os membros de A Igreja de Jesus Cristo dos Santos dos Últimos Dias recebem um banquete espiritual por meio de seus líderes gerais, temos a singular oportunidade de receber revelações para assuntos pessoais, força para desafios e orientação para a vida.
Sendo promovido como "romance" e "história de amor moderna", a adaptação do livro "Cinquenta Tons de Cinza" chega aos cinemas buscando explorar um dos mais fortes apetites humanos (relação sexual), ao passo que a confunde de maneira grotesca com o mais nobre dos sentimentos, o amor.
No dia 27 de Janeiro de 2015, A Igreja de Jesus Cristo dos Santos dos Últimos Dias, em um pronunciamento oficial e histórico, expôs sua posição sobre um dos temas mais debatidos da atualidade: Encontrar meios pelo qual liberdade religiosa e direitos LGBT possam coexistir.
Em época de Natal, lembramos o nascimento do menino Jesus e incansavelmente repetimos os detalhes da história de como um ser tão grandioso, se tornou tão pequeno com o objetivo de tornar grandiosos os pequenos.
Poucos assuntos relacionados à Igreja de Jesus cristo dos Santos dos Últimos Dias parecem atrair mais atenção, falta de compreensão e sensacionalismo midiático do que a primitiva prática do casamento plural no período subsequente à restauração do Evangelho.
Entre os assuntos recentes mais comentados e utilizados por críticos do Livro de Mórmon, estão as pesquisas com DNA e uma contínua tentativa de através disto, desprová-lo como escritura inspirada.
Entre os muitos temas debatidos em nossos dias, poucos assuntos exigem mais compreensão e sensibilidade do que atração pelo mesmo sexo.
A verdade possui poder, e tal poder é mais fácil de ser sentido ao utilizarmos algumas tecnicas.
Cristo ensinou que o caminho que conduz a vida eterna é estreito e apertado. Eu e você provavelmente conhecemos pessoas que por motivos diversos não permaneceram nele e por vezes nos sentimos incapazes de ajudá-los no caminho de volta.
Um dos assuntos mais comentados no país no momento é o resultado final das eleições presidenciais de 2014. Embora política seja um tema controverso , uma análise do significado da palavra Política revela princípios importantes.
© 2024 Intérprete Nefita. Todos os direitos reservados.