Ao ensinar seu filho Coriântum sobre a ressurreição, o profeta Alma filho apresenta sua lição em diferentes níveis de "certeza". Em determinado momento fala de coisas que sabe por revelação recebida por um anjo[1]. Em outro momento, não entra em detalhes que não considera importantes[2]. Em outros ainda, fala de sua opinião pessoal no assunto[3]. É interessante perceber as diferentes camadas de precisão em que o discurso de Alma é exposto. Geralmente, em nossa vivência cotidiana, tendemos a acreditar que toda e qualquer palavra dita por uma autoridade geral é doutrina oficial da Igreja. Vemos aqui, contudo, um exemplo onde um profeta expressa de maneira clara os momentos onde suas palavras são somente uma opinião.
O que é doutrina oficial e o que é meramente opinião? Muitas vezes é fácil distinguir. Outras nem tanto. Por exemplo, é fácil definir que o batismo por imersão é uma doutrina oficial da Igreja. É também fácil para a maioria entender que beber ou não Coca-cola é uma opinião. Mas e quanto a outros temas menos óbvios?
Por exemplo, uma colega há algum tempo atrás me contou a história de um professor que disse, durante uma aula do Instituto, que as escrituras ensinavam que aqueles que não fizessem pelo ou menos o trabalho de quatro gerações de história da família, não seriam exaltados. Grande é a importância do trabalho de história da família. Diversos lugares das escrituras ensinam sobre como somos aperfeiçoados, através deles, ao fazer esse trabalho[4]. Entretanto, partir desse conceito e chegar a conclusão de que a meta de realizar quatro gerações de História da Família (que é relativamente nova) é uma doutrina diretamente relacionada à exaltação, é não só equivocado como constitui uma perigosa mistura entre doutrina e opinião.
Outros exemplos são debates históricos na teologia SUD, como as relativas a idade da terra ou a evolução das espécies. Por mais que a Igreja mantenha clara neutralidade nos temas, há pessoas de ambos os lados do argumento dispostas a ensinar suas conjecturas como doutrinas. Nessa aparente região "cinza" da discussão doutrinária, surge a dúvida: como saber o que é oficial e o que não é? Eis aqui alguns conselhos simples:
1. A primeira dica é definir se esse ensinamento vem do cânone de escrituras ou de algum discurso específico de uma autoridade geral em certo momento particular. Por exemplo, tive a chance de aconselhar um colega que tinha ressalvas quanto a casar com pessoas de outros países porque leu um discurso do Elder Pecker no início dos anos 70, em um contexto totalmente diferente, que aconselhava os membros da Igreja a permanecerem em seu próprio país. O cânone de escrituras oficial constitui-se das quatro obras-padrão (Bíblia, Livro de Mórmon, Doutrina e Convênios e Pérola de Grande Valor), as Declarações oficiais assinadas pela primeira presidênica e quórum dos doze (como "Família, Proclamação ao Mundo") e o Manual Geral de Instruções (para questões administrativas).
2. Mesmo o cânone de escrituras pode conter informações que com o tempo foram provadas equivocadas por outras escrituras ou por evidências científicas. Isso não invalida a essência doutrinária, mas nos auxilia a ser cautelosos quanto a quão literal tomamos as passagens contidas nos livros sagrados. Por exemplo, a essência doutrinária dos capítulos iniciais de Gênesis é apresentar o Deus dos judeus como O Criador de todas as coisas e transmitir o amor que sente por seus filhos. Isso jamais será invalidado. As especificidades do processo de criação, contudo, foram amplamente expandidos, corrigidos e detalhados pelo progresso do método científico nos últimos 400 anos.
3. Discursos e livros de autoridades gerais, conselhos de líderes locais, discursos nas revistas da Igreja. etc. são grandes fontes de inspiração e oferecem conselhos práticos para nos ajudar nas batalhas cotidianas. Eles contudo, não são fontes de doutrina oficial. As doutrinas do evangelho são atemporais e tem existido desde as primeiras dispensações do evangelho. Conselhos e opiniões dadas em discursos são frequentemente para o momento, sendo influenciados pelo contexto político, histórico e social.
4. A busca sincera por conhecimento através do "estudo e também da fé"[5] é um esforço louvável que pode resultar em revelação pessoal e mudança de vida. Mas experiências pessoais não contam como casos gerais ou doutrinas oficiais, e nem podem ser ensinadas dessa forma. Só porque sinto o desejo de me manter o domingo inteiro de roupa sacramental, por exemplo, não posso ensinar isso como uma norma da Igreja.
5. Debates, discussões e materiais contidos em sites, blogs, livros e revistas não oficiais da Igreja podem ser ótimas ferramentas para expandir horizontes e complementar o estudo das escrituras com contextos históricos e outras informações não contidas nos manuais oficiais. Não deve haver receio em consumir esse tipo de material. Entretanto, é necessário cautela e discernimento com fontes que tentam vender uma opinião ou curiosidade como algo aceito oficialmente como doutrina. Observe que referências são citadas por essa fonte. Elas são confiáveis? Quem são as pessoas que estão escrevendo? Perguntas desse tipo podem ajudar a discernir bons materiais na internet e proporcionar uma boa experiência de aprendizado.
Um versículo tão famoso em nosso meio contém uma poderosa mensagem de Jesus Cristo: "Conhecereis a verdade, e a verdade vos libertará"[6]. Entender o que é Doutrina e o que é opinião dentro dos ensinamentos cristãos nos permite concentrar na verdade como ela é, e aproveitar os diversos conselhos e opiniões que de fato se aplicam a nós.
REFERÊNCIAS
[1] Alma 40:11;
[2] Idem, vs. 5, 8;
[3] Idem, vs. 20;
[4] Doutrina e Convênios 127-128;
[5] Doutrina e Convênios 88:118;
[6] João 8:32;
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