A Polarização Política e a Igreja de Jesus Cristo

          “Qual é a posição da Igreja referente a política, em termos ideológicos ou partidários? ”

      Uma pergunta tão simples tende a gerar uma guerra, a medida que se tenta provar que a Igreja pende mais para um dos lados da chamada polarização política (esquerda ou direita), e os mais criativos artifícios são empregados. A resposta mais comum é sempre: “apesar de ser neutra quando o assunto é partidos ou candidatos, a igreja tem uma doutrina mais de esquerda/direita”. O que se propõe aqui é observar de maneira sóbria, a veracidade dos fatos relativos a relação entre A Igreja de Jesus Cristo dos Santos dos Últimos Dias, e as duas principais correntes políticas de nossos dias.

O que é a Polarização Política?

          Discussões sobre ideologias e sistemas políticos remontam a época dos gregos. Aristóteles em seu livro “Política”, descreve os principais sistemas de governo, suas vantagens e desvantagens. Desde o tempo da Bíblia e do Livro de Mórmon, discussões sobre autoritarismo, democracia, a importância da religião na política ou a quantidade de impostos, já eram motivo de intensas discussões[1].

         Nos tempos atuais, a maior discussão política está concentrada no papel do estado na sociedade, na liberdade individual, e na importância da tradição, cultura e religião. A importância especial dada a esses temas tem origem na época da Guerra Fria (1945-1991), onde o pensamento político foi dividido em dois principais: O capitalismo, ou Conservadorismo liberal, e o Socialismo. Em relação ao tema da polarização entre “esquerda e direita”, considera-se que o “pensamento de direita”, agrupa-se ao redor do primeiro, enquanto o “pensamento de esquerda”, ao redor do segundo. Apresentar-se-á uma breve síntese de cada um deles, para instrução do leitor.  As definições e barreiras entre essas duas vertentes não são faceis de se delimitar, então o que é apresentado abaixo é a visão geral, majoritariamente acordada pela maioria dos estudiosos em ciência política e história. 

       O Conservadorismo econômico é o sistema político criado pela junção das ideias do Liberalismo Econômico e Conservadorismo Social. Defende a preservação da cultura e tradições, encoraja o nacionalismo e patriotismo, e defende que o estado não deve intervir na vida de seus cidadãos nem nos meios geradores de riquezas. São grandes adeptos do livre mercado e iniciativa econômica. Seus grandes expoentes são principalmente filósofos e estadistas ingleses do século XVIII, como Edmund Burke, John Locke, Adam Smith e Jeremy Bentham [2].

           O Socialismo propõe a luta de classes entre os mais pobres e os mais ricos, de modo a fazer com que a riqueza produzida seja melhor distribuída. O estado teria forte fator intervencionista na economia e na vida social, para promover esse “equilíbrio”. A estatização dos meios de produção e o confisco de propriedades, bem como o nivelamento dos salários e condições de trabalhos, são característicos deste sistema. O socialismo é geralmente desdenhoso em assuntos culturais, e religiosos (até sugerindo sua eventual extinção). Também são defensores de uma política internacionalista, ao contrário dos conservadores. Sua principal estrutura teórica foi apresentada no trabalho dos pensadores alemães Karl Marx e Friedich Engels, no fim do século XIX[3].

A Posição Oficial da Igreja Quanto a Polarização

          Os adeptos das filosofias de direita ou da esquerda já de muito tempo, tentam ligar as doutrinas da igreja à certos aspectos de suas respectivas ideologias. A verdade é que isso pode ser feito para ambas, já que o leitor desvinculado de opiniões políticas pessoais, consegue encontrar aspectos positivos em ambas as visões. "Se houver qualquer coisa virtuosa, amável, de boa fama ou louvável, nós a procuraremos" [4].

          Ao mesmo tempo, tanto a doutrina de direita como a de esquerda, possuem aspectos negativos que não podem ser conciliados com a doutrina de Cristo. Assim, a opinião oficial da Igreja de Jesus Cristo que segue abaixo, não só é apropriada no sentido de evitar polêmicas, mas necessária, já que nenhum dos sistemas políticos tem a plena consistência e pureza necessárias para serem parte do Evangelho do Salvador:

“Embora defenda o direito de expressão nas questões políticas e sociais, a Igreja é politicamente neutra em relação a partidos, plataformas ou candidatos a cargos políticos. Ela não endossa nenhum partido, plataforma ou candidato político. Também não aconselha aos membros como votar. (...). Os líderes e membros da Igreja não devem fazer nenhuma declaração nem agir de modo que possa ser interpretado como endosso da Igreja a um partido, uma plataforma ou um candidato político [5].

           De maneira clara e inequívoca, se a igreja não aconselha como ou em quem votar, não se opõe ou endossa nenhuma ideologia ou sistema político específico a que um candidato possa se identificar.

Como Então, Interpretar Declarações Passadas de Líderes que Pareciam Endossar um Desses Lados?

          Essas declarações são tantas e tão diversas, que não serão citas aqui. A maioria se apresenta como ataques específicos ao Socialismo.  As mais famosas são de líderes como o profeta Ezra Taft Benson e Heber J. Grant. Suas referências bibliográficas remetem principalmente a livros de autoria pessoal dessas autoridades gerais, o que não apresenta a opinião geral da igreja. Além disso, as críticas são quase todas voltas a um aspecto específico do socialismo (o comunismo), e não o socialismo como um todo; como já discutido, ambas as vertentes de pensamento tem pontos bons e ruins. Finalmente, analisando em um contexto imparcial e geral, aspectos sociais, históricos e nacionalistas influenciaram grandemente o estilo de escrita nesse período (em outras palavras, eram pensadores Americanos escrevendo na época da guerra fria) [6].

          Outras declarações e teorias que tentam, por exemplo, ligar o socialismo à ordem unida ou a consagração dos primórdios da igreja restaurada, são igualmente infundados. Um exame imparcial mostra que tais tentativas são mais superficiais do que substanciais.

Conclusão: O Equilíbrio Encontra-se em um "Meio Termo"

          Benjamin Franklin tornou-se famoso por aplicar com sucesso as teorias sociais da contabilidade em um tema de ciências naturais, a eletricidade. Tomando o caminho inverso ao de Franklin, tentarei estabelecer uma aplicação dos sistemas físicos, ao tema social da polarização política.

          O único ponto de equilíbrio em um sistema físico, onde todas as partes encontram-se em igualdade, é o centro deste sistema. Imagine dois pesos iguais ligados entre si por uma haste. Se essa haste é colocada sob um ponto de apoio (como uma gangorra), o único ponto da haste em que ambos os lados se manterão em equilíbrio, é o centro. Mover a haste mais para direita ou esquerda, produzirá um desequilíbrio automático.

            Assim sendo, quando observamos os sistemas de esquerda e direita, ambos “iguais” em bons e maus princípios, um equilíbrio central precisa ser encontrado para que a concentração de poder por parte de um, não ameace desestabilizar toda uma sociedade. Com centro, não se quer dizer a posição na qual certos partidos políticos brasileiros se intitulam estar. Significa um meio termo entre os pólos, um equilíbrio de ideias que não é tendencioso, um ponto onde o que é bom pode ser aproveitado, independente de vir da esquerda ou direita.. A autossuficiência e o respeito as tradições sadias da filosofia da direita, são bem-vindas. Mas as mazelas oriundas do darwinismo econômico, não o são. Assim também, o incentivo a uma sociedade mais comunitária, menos abusiva e o respeito as diferenças pela esquerda é bem-vinda, mas seu desrespeito a ordem e hierarquia, não.

          Nesse artigo, buscou-se observar como a polarização é incongruente com a Igreja de Cristo, e como a centralidade e equilíbrio são os objetivos desta. No tópico anterior, citou-se que a posição neutra e central da igreja não é só conveniente, mas necessária devido as virtudes e imperfeições de ambas as doutrinas. A já citada décima terceira regra de fé reafirma isso. O ensinamento principal do Salvador é o de apegar-se ao que é bom, e rejeitar ao mal. O discípulo fiel de Cristo não se preocupa em se afirmar “de esquerda ou de direita”. Ele busca ajustar suas visões, ideologias e perspectivas pessoais para que sua vida esteja centralizada em Cristo.  

REFERÊNCIAS

1.Alguns exemplos encontram-se em I Samuel 8; I Reis 12; Mosias 29; Alma 2;

2. Adam Smith, “The Wealth of the Nations”, 1776; Edmund Burke, “Thoughts and Details on Scarcity”, 1795.

3. MARX, K., ENGELS, F., a. “Manifesto Comunista”, 1848; b. “O Captial”, primeiro volume de 1867;

4. PGV – Regras de Fé 1:13;

5. “Manual 2 de Administração da Igreja” tópico 21.1.29;

6. Um exemplo desse tipo de discurso é: Pres. Ezra Taft Benson, “A Witness and a Warning”, Conferência Geral de Outubro de 1979;