Negros e Pele Escura nas Escrituras - A Bíblia Sagrada | Intérprete Nefita

Negros e Pele Escura nas Escrituras

Um dos conceitos amplamente presentes no relato histórico do Livro de Mórmon é a separação física e espiritual da nação Nefita em relação à Lamanita.


Por Luiz Botelho 23 de Fevereiro de 2015
Negros e Pele Escura nas Escrituras

Um dos conceitos amplamente presentes no relato histórico do Livro de Mórmon é a separação física e espiritual da nação Nefita em relação à Lamanita. A história conta que devido à perseguição de Lamã e Lemuel e o risco de vida iminente de Néfi, o Senhor o advertiu para que se afastasse de seus irmãos e levasse consigo todos os que desejavam seguí-lo.[1]

Como consequência de suas trangressões, O Livro de Mórmon relata que Lamã e Lemuel foram amaldiçoados pelo Senhor, que fez com que suas "peles se tornassem escura" afim de produzir uma separação entre o que viria a ser a nação Nefita e Lamanita.[2]

Qual era a natureza de tal maldição? Eram os Lamanitas negros? Analisaremos nesse artigo os versículos das escrituras que mencionam o conceito de "pele escura" e referências históricas, colocando as informações disponíveis sob contexto.

Qual é a origem do conceito de separação humana em classes raciais?

Em 1775, Johan Friedrick Blumenbach, um Físico, Antropologista e Fisiologista escreveu o livro "On the Natural Variety of Mankind" e foi um dos primeiros a sugerir que a família humana deveria ser dividida em 5 raças e assim as classificou como:

- Caucasianos ou brancos
- Mongolianos ou amarelos, incluindo povos de algumas regiões da Ásia
- Malaios ou marrons, incluindo povos do Sul da Ásia
- Etíopes ou raça negra
- Americanos ou vermelhos, incluindo os índios Americanos[3]

Estudos posteriores porém demonstraram que o DNA de toda a família humana é idêntico em aproximadamente 99.99, indicando que o conceito da separação humana em classes raciais tem origem apenas em aspectos culturais e sociais ao invés de científicos. Ao utilizarmos termos como "negros" e "brancos", estamos apenas usando termos criados por homens que na verdade confundem quem realmente somos.

Sobre isso o pesquisador Brant A. Gardner declarou:

"Afirmar que qualquer Índio Americano possui pele negra é incorreto até mesmo na nomenclatura moderna de cores de pele. Eles são chamados de "pele vermelha". Deve ser notado, entretanto, que eles não são "vermelhos". Aqueles cuja pele é chamada de "branca" não são de fato "brancos". Asiáticos são chamados de "amarelos", apesar de eles certamente não possuírem pele amarela. Designações de cor de pele constituem descrições culturais, não científicas. Elas se baseiam em percepção visual que reflete a tendência humana de categorizar pessoas. [4]

Este plano de fundo nos ajuda a compreender como nossa percepção e cultura em tempos modernos afeta nosso entendimento de expressões e termos utilizados no passado, que quase sempre possuíam significados particulares ao contexto dos povos envolvidos.

Neste caso, ao analisarmos as escrituras citando o que aparenta ser povos com "pele escura", somos imediatamente tentados e influenciados a utilizar nossa definição moderna do termo "negro", o que abre caminho para interpretações muitas vezes desastrosas do que as escrituras realmente ensinam. Mas o que as escrituras declaram sobre o conceito de "pele escura"?

O uso da palavra "negro", "enegrecido" e "black" em tempos Bíblicos

Curiosamente, uma análise mais detalhada do contexto das referências escriturísticas existentes sobre o assunto, revelam que em tempos antigos, palavras que normalmente são utilizadas em nosso dias como descrição da pele física, jamais eram utilizadas com esse propósito.

1. Jeremias 8:21 declara:

"Estou quebrantado pela ferida da filha do meu povo; ando de luto; o espanto se apoderou de mim."

O termo "ando de luto" é uma interpretação do significado da expressão a "I am black" ou "Estou negro" presente na versão Inglesa da Bíblia. A expressão figurativa "Estou negro" (traduzido "ando de luto" em Português) nesse versículo é evidente, e não reflete uma característica física da pele de Jeremias, mas uma condição emocional daquele momento.

Na versão SUD da Bíblia do Rei Tiago, a nota do rodapé para a palavra "black" indica a palavra "gloomy", uma tentativa de tradução de um termo hebraico que significa "sombrio, tenebroso e triste", termos que não podem ser utilizados para descrever cor de pele mas um estado emocional ou espiritual.

2. Jeremias 14:2: 

Anda chorando Judá, e as suas portas estão enfraquecidas; andam de luto até ao chão, e o clamor de Jerusalém vai subindo. Novamente a versão SUD da Bíblia do Rei Tiago utiliza a palavra "black", enquanto em Português é utilizado "andam de luto".

A nota do rodapé adicionado pela Igreja novamente menciona que "black" é uma tentativa de tradução de um termo hebraico que significa um estado emocional ou espiritual "sombrio, tenebroso e triste". 

3. Joel 2:6:

Diante dele temerão os povos; todos os rostos se tornarão enegrecidos.

Será que "enegrecidos" nesse contexto se refere à pele física? Uma leitura dos versículos anteriores indicará novamente que a expressão utilizada é uma referência a um estado emocional, sem qualquer ligação com a pele física. Mais uma vez a versão SUD da Bíblia do Rei Tiago remete no rodapé à expressão hebraica que significa sombrio, tenebroso e triste.

4. Naum 2:10

Vazia, esgotada e devastada está; derrete-se o coração, e tremem os joelhos, e em todos os lombos há dor, e os rostos de todos eles se enegrecem.

Mais uma vez uma leitura no contexto torna evidente o fato de que a palavra "enegrecem" é uma expressão figurativa utilizada para descrever um mal sentimento, ao invés da cor da pele física.

5. Jó 30:30:

Enegreceu-se a minha pele sobre mim, e os meus ossos estão queimados do calor.

Na versão João de Almeida, é dito que a pele de Jó enegreceu e que seus ossos estavam "queimados de calor". Aparentemente Jó se refere à sua pele física, mas a leitura dos versículo anteriores indicam que o que sofria não era causado pelo sol mas por angústia, escuridão, tristeza, etc.

Jó 30:26,28:

Todavia aguardando eu o bem, então me veio o mal, esperando eu a luz, veio a escuridão.(...)Denegrido ando, porém não do sol; levantando-me na congregação, clamo por socorro. 

Outras versões da Bíblia vão além na clareza:

Estou com a pele enegrecida; mas não é por ter apanhado sol, é por causa do sofrimento. Ergo-me, diante de todos os meus concidadãos, e clamo por socorro. (Jó 30:28)[5] 

6. Lamentações 5:10:

Nossa pele se queimou como um forno, por causa do ardor da fome.

A versão Inglesa do Rei Tiago por sua vez utiliza a expressão "Nossa pele estava negra como um forno".

Considerando que a pele de ninguém escurece quando sofrem com a fome, novamente o contexto é claro em indicar que o versículo descreve um sentimento e não cor da pele física. 

Conclusão a respeito dos versículos citados na Bíblia

Vemos dessa forma que todas as menções bíblicas das palavras "negro", "pele escura", "pele enegrecida", quando analisadas sob o contexto em que se aplicam, tornam evidente que não se tratam definições físicas, mas uma descrição da "pele espiritual" do indivíduo, que remete a um estado emocional de tristeza e sofrimento.

Menção à "pele escura" no Livro de Mórmon

O Livro de Mórmon, assim como a Bíblia, possui diversas menções à "pele escura" ao se referir à nação Lamanita. Tais passagens no decorrer do tempo, tem sido interpretadas de maneira a indicar que de fato havia uma diferença física entre Nefitas e Lamanitas, tendo os Lamanitas uma pele escura devido à maldição que receberam.

A primeira coisa a ser compreendida é que no contexto das escrituras, ser "amaldiçoado" por Deus geralmente está associado a ser banido de sua presença e perder o acesso às bençãos prometidas. 

Alma 3:14 declara:

"Assim foi cumprida a palavra de Deus, pois estas são as palavras que ele disse a Néfi: Eis que amaldiçoei os lamanitas e marcá-los-ei, para que eles e seus descendentes sejam separados de ti e de tua semente de hoje em diante e para sempre, a menos que se arrependam de suas iniqüidades e voltem-se para mim, a fim de que eu tenha misericórdia deles."

O Livro de Moisés 5:36,38,39 declara que Caim foi "amaldiçoado"... "banido da presença do Senhor". Em D&C 29:41 "amaldiçoado" novamente se refere a estar banido da presença de Deus.

2 Néfi 5:20 reforça esse conceito:

"A palavra do Senhor portanto foi cumprida quando me falou, dizendo: Se deixarem de dar ouvidos a tuas palavras, serão afastados da presença do Senhor. E eis que foram afastados de sua presença."

Algumas passagens do Livro de Mórmon entretanto, parecem se referir literalmente à cor da pele. 2 Néfi 5:21 declara: 

"E ele fez cair a maldição sobre eles, sim, uma dolorosa maldição, por causa de sua iniqüidade. Pois eis que haviam endurecido o coração contra ele de tal modo que se tornaram como uma pedra; e como eram brancos, notavelmente formosos e agradáveis, a fim de que não fossem atraentes para meu povo o Senhor Deus fez com que sua pele se tornasse escura."

É interessante notar que na palavra "pele" em tal versículo, a nota do rodapé adicionada pela Igreja na edição em Inglês do Livro de Mórmon remete para 2 Néfi 30:6 que diz: 

"E aí se regozijarão; porque saberão que é uma bênção que lhes vem da mão de Deus; e de seus olhos começarão a cair as escamas da escuridão; e antes que se passem muitas gerações, tornar-se-ão um povo puro e agradável." 

Um fato interessante sobre tal versículo está nos próprios registros históricos da Igreja.

Na edição de 1830 do Livro de Mórmon lemos "branco e agradável". Quando Joseph Smith preparou a edição de 1840 para ser publicada, ele substituiu "branco e agradável" por "puro e agradável", provavelmente ao perceber que os leitores interpretavam tal passagem de maneira literal, ao invés de simbólica. A alteração removia então a ambiguidade.

Infelizmente esta mudança passou despercebida em edições posteriores, até a preparação da edição de 1981. Então, a edição de 1981 restaurou a edição feita em 1840 e não era uma alteração recente. As escrituras do Livro de Mórmon que sugerem "índios se tornando brancos" nada tem a ver com alteração da cor de suas peles, mas de pureza perante Deus.[6]

Em outras palavras:

* Nas primeiras edições do LDM, 2 Néfi 30:6 usava a palavra "branco" ao invés de "puro"
* Após perceber que membros interpretavam tal versículo de maneira literal, na edição posterior, Joseph alterou "branco" para "puro", indicando que o versículo não se referia a cor da pele física mas à pureza espiritual.
* Após feita essa alteração, o versículo então foi adicionado como nota do rodapé específico da palavra "pele" em 2 Néfi 5:21, indicando que também naquele versículo o uso da expressão "pele escrura" tem sentido espiritual e não literal.

Ao considerar os exemplos bíblicos citados anteriormente, é possível perceber que a menção de uma "pele escura" segue um padrão que remete a uma condição espiritual. Ter isso em mente faz toda a diferença nas conclusões que tiraremos após analisarmos os versículos. Brant Gardner sobre isso declarou:

"O que precisamos saber é o que aquela frase significa no contexto das pessoas e período em que foi escrita. Esta não é uma tarefa fácil, visto que não possuímos uma infinidade de informações."

Desmistificando a lenda da pele escura no Livro de Mórmon

Como demonstrado anteriormente, os versículos citados em 2 Néfi que aparentemente indicam se referir à cor física da pele, demonstram na verdade serem referências a uma condição espiritual de escuridão. Tal conclusão baseia-se na análise de contexto, padrão bíblico e referências históricas de edições realizadas no Livro de Mórmon a fim de esclarecer pontos erroneamente interpretados na época.

Em outras palavras, os Lamanitas JAMAIS tiveram LITERALMENTE a pele física mais escura do que a dos Nefitas. Versículos das escrituras que falam sobre o assunto devem ser entendidos de maneira figurativa, como uma espécie de "pele espiritual".

No livro de Jacó 3:8 lemos:

"Ó meus irmãos, temo que, a menos que vos arrependais de vossos pecados, a pele deles será mais branca do que a vossa, quando fordes levados com eles perante o trono de Deus."

Estaria Jacó temeroso de que seus irmãos se apresentassem no tribunal de Deus com uma cor mais escura literal? A primeira vista Jacó 3:8 parece realmente se referir à cor da pele. No entanto, uma análise à 1 Samuel 16:7 demonstra o porque tal versículo não pode ser interpretado de maneira literal:

"(...)porque o Senhor não vê como vê o homem, pois o homem vê o que está diante dos olhos, porém o Senhor olha para o coração." (Indicando que não é a cor da pele física que será levada em conta no julgamento final)

Em 3 Néfi 2:15 lemos: 

"E a amaldição foi retirada deles e sua pele tornou-se branca como a dos nefitas."

As notas do rodapé para a palavra "branca" remetem para os versículos anteriormente analisados novamente indicando uma condição espiritual e não física. Isso explicaria porque índios convertidos não se tornam brancos, simplesmente por que isso nunca aconteceu de forma literal.

O Livro de Mórmon fornece evidências que apoiam esse conceito

Alma 3:4 declara:

Alma 3:4 E os anlicitas distinguiam-se dos nefitas porque haviam marcado a fronte de vermelho, à moda dos lamanitas; mas não haviam rapado a cabeça como os lamanitas.

O versículo em questão demonstra que os Anlicitas (seguindo o que os Lamanitas fizeram) se diferenciavam dos Nefitas pela marcação de vermelho que fizeram em suas testas. Por que anlicitas e Lamanitas fariam marcas para se diferenciarem de Nefitas se a cor de suas peles eram diferentes?

Alma 55 apresenta o que pode ser uma evidência conclusiva de que jamais houve qualquer diferença na cor da pele de Nefitas e Lamanitas. Neste capítulo, aprendemos que Morôni, sabendo que os Lamanitas mantinham muitos prisioneiros Nefitas, elaborou um plano para poder libertá-los.

Moroni então teve a ideia de enviar um Lamanita (que encontraram na cidade e que não mais estava com os Lamanitas) com um grupo de soldados nefitas, se passando por Lamanitas fugitivos, para levar vinho aos guardas Lamanitas e assim após embriagá-los, poderem libertar os prisioneiros nefitas. 

Alma 55:7-9 declara:

"Ora, os nefitas estavam presos na cidade de Gide; portanto Morôni designou Lamã e fez com que um pequeno número de homens o acompanhasse.

E quando chegou a noite, Lamã dirigiu-se aos guardas que vigiavam os nefitas e eis que eles o viram e detiveram-no; mas ele disse-lhes: Não temais; eis que sou um lamanita. Eis que escapamos dos nefitas e eles dormem; e eis que trouxemos seu vinho conosco.

Ora, quando os lamanitas ouviram estas palavras, receberam-no com alegria; e disseram-lhe: Dá-nos de teu vinho para que bebamos; alegra-nos que tenhas trazido vinho, pois estamos cansados."

Tais versículos fornecem uma excelente evidência de que não havia nenhuma diferença de cor de pele entre Nefitas e Lamanitas. Analisemos os versículos:

** Morôni envia um grupo de Nefitas com um Lamanita (Lamã) para se passarem por prisioneiros Lamanitas fugitivos. Obviamente se Nefitas possuíam cor diferente, Moroni não os teria enviado, pois seriam reconhecidos imediatamente como não sendo Lamanitas.
** Lamã não foi escolhido por Morôni por ter a cor escura, mas provavelmente por falar, ter sotaque e agir como Lamanita, algo que os soldados Nefitas não conseguiriam fazer.
** Lamã declara ser um Lamanita
** Lamã acompanhado por um grupo de Nefitas se passando por Lamanitas, diz que escaparam dos Nefitas.
** Os guardas Lamanitas ao invés de reconhecerem imediatamente os falsos Lamanitas, os recebem com alegria.

Se Nefitas tinham pele clara e Lamanitas pele escura, porque os soldados Lamanitas não reconheceram o grupo de Nefitas? Por que Lamã precisou declarar ser Lamanita? Simplesmente porque tal diferença literal de cor jamais existiu.

Na tentativa de defender a fé contra acusações de racismo, alguns membros da Igreja utilizam a seguinte escritura, conduzindo-a porém a uma linha de raciocínio apenas parcialmente correta:

2 Néfi 26:33:

Pois nenhuma destas iniqüidades vem do Senhor, porque ele faz o que é bom para os filhos dos homens; e não faz coisa alguma que não seja clara para os filhos dos homens; e convida todos a virem a ele e a participarem de sua bondade; e não repudia quem quer que o procure, negro e branco, escravo e livre, homem e mulher; e lembra-se dos pagãos; e todos são iguais perante Deus, tanto judeus como gentios.

Ao ser lido de um ponto de vista moderno, o versículo é inspirador e relembra que o Senhor ama a todos independente de como são. Mas quando analisado sob o contexto de que na realidade, raças não existem e que todos temos variações de tons de uma mesma cor, concluiremos mais uma vez que a expressão "negros e brancos" se refere à pureza espiritual e não condição física, ou em outras palavras a expressão poderia ser substituída por "puros e impuros".

Um exemplo similar desse padrão pode ser encontrado em Alma 11:44:

"Ora, esta restauração acontecerá com todos, tanto velhos como jovens, tanto escravos como livres, tanto homens como mulheres, tanto iníquos como justos; e não se perderá um único cabelo de sua cabeça, mas tudo será restaurado em sua estrutura natural, como se encontra agora, ou seja, no corpo; e todos serão levados perante o tribunal de Cristo, o Filho, e Deus, o bPai, e o Santo Espírito, que são um Eterno Deus, para serem julgados segundo suas obras, sejam elas boas ou más."

Vemos novamente este padrão ser utilizado em Alma 1:30:

"E assim, em sua aprosperidade, não deixavam de atender a quem quer que estivesse nu ou faminto ou sedento ou doente ou que não tivesse sido alimentado; e o seu coração não estava nas riquezas; portanto eram liberais com todos, tanto velhos como jovens,tanto escravos como livres, tanto homens como mulheres, pertencessem ou não à igreja, não fazendo acepção de pessoas no que se referia aos necessitados."

Alterações em edições mais recentes do Livro de Mórmon

Em 2006 o texto introdutório de diversos capítulos do Livro de Mórmon foram alterados, de maneira a reforçar a "maldição" como uma separação da presença do Senhor, ao invés de uma "pele escura". É importante lembrar que estes textos introdutórios não fazem parte do texto do Livro de Mórmon, mas são apenas uma descrição do conteúdo do capítulo.

Mormon 5

Removido no texto introdutório: "Os lamanitas serão um povo escuro, imundo e repugnante"
Alterado para: "Por causa de sua incredulidade os Lamanitas serão dispersos e o Espírito cessará de lutar com eles."

2 Néfi 5

Removido do texto introdutório: "Lamanitas são amaldiçoados e recebem uma pele escura"
Alterado para: "São afastados da presença do Senhor."[8]

Conclusão

Ao analisarmos as diversas referências escriturísticas, históricas e culturais, podemos afirmar que:

** O concentio de divisão racial humana tem raízes culturais e não científicas, significando que o ser humano tem a tendência de categorizarem-se em classes.
** Todas as menções bíblicas à "pele escura", "pele enegrecida" e "cor negra" são claramente figurativas, representando uma condição espiritual e não física.
** O Livro de Mórmon foi escrito por Judeus que certamente estariam familiar com o padrão bíblico de utilização da expressão "negra" como figurativa. Dessa forma, não é surpresa que tenham utilizado essa mesma linguagem simbólica.
** As referências de rodapé inseridas pela Igreja para definir a expressão "pele negra" na Bíblia, remete a uma expressão hebraica que significa "sombrio, tenebroso e triste", expressões que não podem ser utilizadas para descrever cor de pele.
** Joseph Smith na edição de 1840 do LDM substituiu a expressão "branco e agradável" por "puro e agradável", indicando que "branco" nesse contexto se refere à pureza espiritual e não cor da pele.
** A maldição recebida pelos Lamanitas foi o banimento da presença do Senhor e não uma cor escura literal.
** A natureza simbólica e figurativa de expressões relacionadas à cor de pele no Livro de Mórmon explicam porque índios conversos não se tornam brancos.
** Exemplos do LDM como Alma 3:4 e Alma 55:7-9 fornecem fortes evidências de que não havia diferença de cor entre Nefitas e Lamanitas
** Em 2006 a Igreja alterou expressões no cabeçalho de 2 Néfi 5 e Mórmon 5, de maneira a remover a ideia de que a pele escura era de fato literal.

É aparente dessa forma que as referências e evidências existentes dentro e fora do Livro de Mórmon e Bíblia apoiam a ideia de que menções à cor de pele nas escrituras são meramente figurativas e certamente não refletem o princípio de desfavor divino baseado em raça. 

Enquanto o mundo procura classificar tudo e a todos baseado apenas no que os olhos podem ver, lembremos que independente de nossas características físicas, todos somos filhos amados de Deus e que possamos gravar em nossos corações a realidade de que o "Senhor não vê como o homem: pois o homem vê a aparência, mas o Senhor vê o coração". 

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Notas:

[1] 2 Néfi 5:5-6
[2] 2 Néfi 5:21
[3] Chemistry Tree profile; Johann Friedrich Blumenbach
[4] Brant A. Gardner, Second Witness: Analytical and Contextual Commentary on the Book of Mormon, 6 vols. (Salt Lake City: Greg Kofford Books, 2007-2008)
[5] OL; http://www.biblica.com/
[6] Joseph Smith Papers Project; http://josephsmithpapers.org/paperSummary/book-of-mormon-1830#!/paperSummary/book-of-mormon-1830&p=123
[7] 2 Néfi 5:21; 2 Néfi 30:6; Jacó 3:8
[8] No More “Skin of Blackness”?: Race and Recent Changes in the Book of Mormon



COMENTÁRIOS

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Thiago Tavares em 12/11/2017

Obrigado pelo artigo. Muito bom esse texto. Há algumas semanas eu tinha estudado o artigo de Ethan Sproat, Skins as Garments in the Book of Mormon: A Textual Exegesis (BYU Studies 24, 2015, 138-165) que analisa o mesmo assunto. As evidências internas citadas pelo autor deixam claro como é difícil sustentar essa ideia de lamanitas =negros e nefitas=brancos. Dentro da perspectiva histórica do mormonismo é perfeitamente possível compreender como o processo de racialização desses dois grupos ocorreu naturalmente dentro da igreja. Para a maioria dos membros ainda é difícil aceitar uma interpretação mais flexível e não vinculada literalmente a cor da pele. Parabéns pelo esforço na divulgação dessas ideias.

Fernando em 09/04/2017

Perdi o respeito por esse site após ler essa matéria onde vc acaba deturpando as escrituras dizendo ser figurativa as linguagens das escrituras , digo que as imagens das escrituras raramente são figurativas ,são reais e literais

Luiz Botelho

Olá Fernando,

Não fui eu quem afirmou. Se notar, são as próprias escrituras que afirmam e desqualificam a ideia literal de cor de pele e racismo. Perder respeito por um site simplesmente por ler algo que contraria sua opinião é uma atitude um tanto imatura.

Abraço

Robson Quadros em 07/10/2016

pois bem, agora porque Brigham Young discriminou os negros negando o Sacerdócio para os homens e impedindo qualquer pessoa negra de entrar nos templos? é uma pergunta que permanece comigo.

Ewerton em 05/10/2016

Esqueci de acrescentar ao meu comentário que o fato de o recebimento do sacerdócio está vetado a um grupo especifico, no caso os de pele negra, que só foram autorizados no ano de 1978, mostra sim que há uma questão de pele como algo literal de uma condição espiritual em ambos os casos apresentados.

Ewerton em 05/10/2016

Olha, o texto aborda um assunto interessante mais carece de explicações e até citações de lideres que se pronunciaram sobre o assunto de forma cabal, literal e direta, são muitas e não posso por aqui nem a centésima parte, mais de forma bem leve cito: ''Existe uma razão para um homem nascer preto e com outras desvantagens, enquanto outro nasce branco e com grandes vantagens... Na guerra nos Céus, não houve nenhum neutro. Todos tomaram partido, fosse com Cristo ou com Satanás. Todo homem teve seu arbítrio lá, e aqui os homens são recompensados de acordo com suas ações lá... A raça negra, evidentemente, está recebendo o galardão que merece'' (Doutrinas de Salvação, Vol. 1, páginas 61, 67 e 73)." Cito: "Para ilustrar: Caim, Ham e toda a raça negra foram amaldiçoados com uma pele preta, a marca de Caim, assim eles podem ser identificados separadamente como uma casta, pessoas com quem os outros descendentes de Adão não deveriam se casar (Gen. 4; Moses 5.)". Mormon Doctrine, 1979, página 114. “Como ilustração temos Caim... e toda a raça negra que tem sido amaldiçoada com a pele negra...” Mormon Doctrine, página pg. 114. Cito: SPENCER W. KIMBALL – Décimo-segundo presidente da igreja (período: 1973-1985) General Conference Report, October, 1960. Improvement Era, December 1960, pp. 922-923. “Eu vi um contraste impressionante no progresso dos indígenas hoje... Por anos eles tem crescido e agora eles estão se tornando brancos e encantadores, conforme foi prometido. Desculpe irmão mais a cachoeira de escrituras derramadas por nossos primeiros lideres sobre o assunto é muito abundantes, embora tenha citado pequenos trechos o qual me contenho em não expor as que possuem uma linguagem bem mais forte sobre o assunto.

Luiz Botelho

Olá Ewerton,

Obrigado por seu comentário. Há de fato diversas citações de líderes que de fato acreditavam que a cor da pele era sinal de desfavor divino. A Igreja , entretanto, renunciou tais interpretações em um dos artigos do Gospel Topics no site original. Vale a pena conferir o artigo sobre questões raciais.

Abraço

Claudio em 16/10/2015

Parabéns pelo texto você despendeu muito tempo de estudo, mas achei falta de citações de manuais e citações dos lideres para confirmar seu estudo. Um abraço

Luiz Botelho

Olá Claudio,

Obrigado por seu comentário e apoio. Muitos historiadores da Igreja concordam com a perspectiva de que a cor de pele mencionada nas escrituras não se refere a pele física. No entanto, por muito tempo acreditava-se que a menção era literal. A maioria dos manuais da Igreja não possuem um estudo específico nesse sentido e em alguns deles a cor da pele é mencionada como algo literal, apesar de como indiquei, alguns desafios nesse tipo de interpretação.

Os manuais da Igreja são produzidos pelo Sistema Educacional da Igreja e buscam interpretar e colocar a doutrina do Evangelho sob contexto até onde é possível. Eles não são necessariamente o reflexo de revelação divina ou verdade absoluta, de maneira que informações podem ser atualizadas e corrigidas quando novas informações se tornam disponíveis. Amo os manuais e os utilizo frequentemente, mas nesse caso, tendo a obter a perspectiva de que o assunto não é tão simples como parece.

Grande abraço!

Fernando Dantas em 04/10/2015

Em adição o capítulo 11 de 1 Néfi diz que a Árvore da Vida tinha uma \"beleza que excedia toda a beleza e sua brancura excedia a brancura da neve\", isso deixa claro que era a pureza, a seguir ele vê a virgem que seria a mãe do Messias e a descreve da mesma maneira, ou seja, formosa e branca. Então da mesma maneira que a árvore era a condescendência de Deus em sua pureza e santidade, Maria era a personificação dessa condescendência, pura e santa, trazendo um fruto que nos salva.

Renan em 13/09/2015

Obrigado Luiz pela indicação do artigo. Mas ainda assim continuo com dúvidas em relação à esse assunto. Fica difícil aceitar que a aleatoriedade do evolucionismo produziu fenótipos diferentes. Por exemplo, porque os asiáticos tem o fenótipo parecido e porque a maioria deles vivem em uma região em comum, no caso a Ásia? Porque a África sub-saariana tem predominância absoluta de negros e na África mais próxima do mar mediterrâneo o fenótipo não é negro? Essa divisão de territórios com fenótipos em comum me intriga. Acho a teoria da evolução muito vaga para explicar tais diferenças por território.

Luiz Botelho

Olá Renan,

Obrigado por seus comentários no site. Alguns dos pontos que mencionou pretendo abordar em breve em novos artigos.

Sobre as características diferentes de pessoas conforme sua distribuição geográfica no mundo, creio que essa é na verdade uma das maiores evidências da Teoria da Evolução aplicada à humanos. Na verdade essas diferenças são explicadas naturalmente pela Evolução e o conceito de Seleção Natural, que é a adaptação do corpo ao ambiente que se vive. Seleção natural é basicamente a imposição do meio ambiente de certas condições que faz com que alguns animais ou espécies com certas características simplesmente não consigam sobreviver em determinados ambientes. Há de fato muitas evidências documentadas para este processo.

As características diferentes entre povos diferentes como a cor da pele está amplamente ligada a esse princípio e ao fato de no hemisfério Sul a exosição ao sol ser muito maior do que ao hemisfério norte, processo esse que afeta diretamente alguns aspectos de nosso corpo fazendo-o gerar mais ou menos pigmentação na cor da pele em uma tentativa de sobreviver aos raios UV que vem do Sol.

Esse documentário da History Channel é uma boa maneira de entender melhor o básico desse assunto:

https://www.youtube.com/watch?v=Iy5JhgAAyD0

Sobre a "aleatoriedade" da Teoria da Evolução, embora os dados sejam os mesmos, talvez as conclusões não sejam tão estritas assim. Se a Evolução é um mecanismo de criação de vida projetado por Deus, a "aleatoriedade" não é tão "aleatória" assim. Crer na Teoria da Evolução não significa crer que Deus não tem papel sobre o desenvolvimento da vida, mas ao invés disso, compreender que Ele é o grande arquiteto desse complexo sistema. A Teoria da Evolução funciona de uma maneira tão complexa e majestosa, que sua existência por si só ao meu ver é um grande milagre e evidência do poder majestoso e inteligência de Deus.

Grande abraço!

Renan em 05/09/2015

Belo estudo. Ainda não tinha analisado esse assunto sob essa perspectiva. Mas o que ainda me intriga é o fato de haverem diferentes tons de pele, fenótipos, genótipos, traços faciais, cor dos olhos, cabelos, etc. Já que todos nós descendemos de Adão, não deveríamos todos ter o mesmo tom de pele e fenótipo? Desde quando os homens passaram a ter diferentes tons de pele? Gostaria de saber a resposta.

Luiz Botelho

Olá Renan,

Acredito que esse artigo pode indicar a direção:

http://www.interpretenefita.com/artigo/mormons--macacos-e-a-teoria-da-evolucao/60/

ivan barbosa em 26/07/2015

Não entendo a posição firme de alguém dizer que o termo é claro \"pele\" tendo em visto que o próprio termo em egípcio reformado talvez não fosse esse. É muito mais plausível encarar como os historiadores e o texto acima afirma, o contexto social era outro naquela época, a tradução é uma tentativa de nos trazer os fatos acontecidos, mas de forma alguma consegue nos deixar a par de todas as convenções ou costumes de um povo tão antigo e diferente, salvo o que nós temos a respeito dos judeus. Confesso que nem me importava muito com o assunto só parei pra analisar após ler o texto que é bastante interessante.

Micheli em 14/07/2015

Olá, boa noite!! Gostei muito desse artigo, porém estudando as escrituras outro dia encontrei um versículo que diz literalmente que a pele dos lamanitas se tornou escura. 2 Nefi 5:21. Acredito que nesse caso não foi figurativamente. Obrigada!!!

Luiz Botelho

Olá Micheli,

Obrigado pelo contato. Estou respondendo sua mensagem individualmente por email.

Abraço!

Elaine O. Bispo de Souza em 24/06/2015

Irmão, não entendi por que justificar como um termo figurativo já que a pele do índios de fato é mais escura que dos gentios.Outro ponto que gostaria de ver nesse debate é a questão do negros de fato, ou seja, de ascendência africana!

Luiz Botelho

Olá Elaine,

Obrigado por seu comentário. Respondi sua mensagem diretamente por email.

Grande abraço!

lopes em 09/06/2015

Só tenho algo a dizer: BRILHANTE!!!

Paulo Magnani em 13/04/2015

Luiz, parabéns por mais este excelente artigo, claro, profundo, sincero e esclarecedor. Eu já havia lido em um livro do Hugh Nibley uma explicação semelhante a esta que você publicou. Realmente faz muito mais sentido. O que não faz sentido é querermos interpretar um texto antigo de acordo com os valores sociais e culturais modernos. Precisamos sempre nos lembrar que o Livro de Mórmon que temos foi uma tradução das placas menores, que eram um relato muito mais espiritual do que secular do povo nefita, nossa leitura deveria portanto buscar um sentido muito mais espiritual do que literal, quando o lemos assim até mesmo as guerras passam a ter um significado muito mais profundo, e nos aproximamos de Deus de forma muito mais significativa. Grande abraço!

Luiz Botelho

Faço de suas palavras as minhas Paulo!

Carlos Bertemes em 07/03/2015

Mas como explica então os índios sul americanos terem uma pele mais escura? Obrigado Carlos

Luiz Botelho

Olá Carlos,

Estou respondendo sua pergunta individualmente por email.

Abraço!

Jefferson Galvão em 24/02/2015

Mais uma vez o Intérprete Nefita reforçou meu conhecimento e certeza de que as escrituras são a palavra de Deus, verdadeiramente enxergamos tudo com os olhos carnais amaldiçoados, deixamos de lado o grande privilégio de obter sabedoria espiritual. A cor da pele não é literal nas escrituras.

Thiago em 23/02/2015

Irmão, uma bela historia, muitas verdades, mas no final acho que a maquiagem não pegou bem. O livro de mormon é bem claro, cita \"pele\" e depois fala que seria escurecidas. Não acredito que seja pele negra e sim como a pele do índios, mais escura que a branca!

Luiz Botelho

Olá Thiago,

Obrigado por seu comentário. Respeito sua opinião, mas após estudar todas as referências e contexto histórico dos fatos, estou convencido de que o conceito de peles diferentes no Livro de Mórmon está equivocado. Dessa forma, uno minha voz e opinião à maioria dos pesquisadores do texto do Livro de Mórmon, que igualmente chegaram a estas conclusões.

Obrigado por sua opinião

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