Vivemos tempos de crise sanitária em muitos países (devido ao novo corona vírus) e, em consequência disso uma crise financeira. Quase todos os setores da sociedade tem se preparado para tal – empresas, escolas, lugares de lazer e entretenimento e também a Igreja. As novas instruções e restrições relativas a reuniões presenciais e aglomerações de membros são uma prova de amor de nosso Pai Celestial através de seus líderes.
Essa nova configuração, ainda que claramente provisória (como descrevem as instruções da primeira presidência), tem gerado bastante alarde entre os membros da Igreja. Muitos estão certos de que o corona vírus marca o fim do mundo e o retorno iminente de Cristo. Mas há evidências suficientes para isso? Será que tal atitude é prudente e ajuda nesse momento? O presente artigo objetiva analisar essas alegações à luz das escrituras, da ciência e da história secular.
1. Qual o motivo para o alarde?
Há diversas escrituras que descrevem a situação nos últimos dias e os sinais para o retorno de Cristo. As mais citadas encontram-se em Doutrinas e Convênios 45, em Mateus 24 e em 2 Timóteo 3. Todas descrevem de maneira mais ou menos parecida tais eventos.
Consideremos DeC 45. Existem cerca de trinta e nove versículos nesse capítulo que descrevem eventos relativos a segunda vinda de Cristo e os sinais que a precederão. Muitos desses são bem específicos e ainda não ocorreram[1]. A maioria dos que acreditamos que estejam acontecendo são de natureza mais genérica. Examinemos estes.
2. “E naqueles dias se ouvirá de guerras e rumores de guerras e toda a Terra estará em comoção”[2].
Sempre que um novo conflito militar se inicia no mundo, diversos membros da Igreja tomam para si o manto profético e declaram que este ou aquele são um sinal claro da volta de Cristo. Quantas pessoas não agiram assim relativo ao princípio de tensão entre os Estados Unidos e o Irã no começo de 2020? Quantas pessoas falavam em terceira guerra mundial e do fim do mundo? Entretanto, nada aconteceu.
Analisando a história como um todo, veremos que nenhum dos dez mais sangrentos e traumáticos conflitos da humanidade aconteceram mais recente do que 75 anos atrás. Ao contrário, dados mostram[3] que grandes conflitos de escala e influência mundial tem decaído substancialmente desde 1500. Até onde a evidência indica, potenciais conflitos armados ou tensões políticas em nossos dias não podem ser tomados como um sinal indiscutível da segunda vinda de Cristo.
3. “E haverá homens nessa geração que não passarão até que vejam uma praga terrível; pois uma doença desoladora cobrirá a terra”[4].
Esse é o grande tópico do momento. O novo corona vírus tem varrido o mundo, centenas de milhares de pessoas já foram infectadas e alguns milhares delas morreram devido a pandemia. Contudo, antes de especular a respeito da vinda de Cristo baseados na situação atual, é necessário olhar para história de maneira semelhante ao que fizemos no tópico 2.
Segundo dados oficiais[5], o novo corona vírus já infectou até o presente momento[6] 158.408 pessoas, matou cerca de 5.847 e 75.955 se recuperaram da doença. Comparemos isso a outras pandemias recentes e antigas que já assolaram a humanidade:
Somente nos Estados Unidos, 59 milhões de pessoas foram infectadas na segunda pandemia do vírus H1N1 entre 2009 e 2010. Cerca de 12 mil pessoas morreram somente nos EUA[7].
A gripe espanhola, primeira pandemia do H1N1, matou cerca de 50 milhões de pessoas ao redor do mundo no começo do século XX[8].
Os surtos da peste bubônica duraram séculos e estima-se que mataram cerca de 25 milhões de pessoas. Só um dos surtos matou 70mil pessoas em Londres[9].
Poderíamos citar outras com número bem superior de causalidades do que o corona vírus. Ele teria que progredir de maneira profundamente rápida e improvável para chegar se quer perto de qualquer uma das pandemias citadas acima. Na China, os números de infectados já começam a diminuir. A medida que a ciência progride, os avanços de higiene e assepsia e progressos farmacêuticos e da imunologia tem evitado uma propagação desenfreada de vírus e bactérias. Diversas pragas desoladoras já vieram e não marcaram o fim. E se vier uma pior do que todas essas, é bem provável que não seja o corona vírus.
Ao examinar cuidadosamente os informes da primeira presidência a respeito das restrições relativas as reuniões da igreja, encontramos um espírito de serenidade e prevenção, e não alarde e pânico semelhante ao que está sendo propagado por tantos membros. Eles deixam claro que as mudanças visam a atender recomendações de especialistas, pedidos de líderes locais e também estão de acordo com a inspiração divina[10]. Não há nenhuma menção ou comentário indireto ao fim do mundo ou Segunda vinda de Cristo.
4. “E o amor dos homens esfriará e a iniquidade será abundante”[11].
O mundo de hoje é, em diversas maneiras, um local perigoso e turbulento para se viver. Mas pode-se dizer com toda certeza que o coração dos homens é mais frio hoje do que em tempos antigos? Como avaliar isso de maneira objetiva e não subjetiva?
Que maior demonstração de falta de amor pelo próximo foram os longos períodos de escravidão que assolaram a humanidade em quase toda a extensão de sua história? Muito antes do tráfico de africanos pelos Europeus na época colonial, homens e mulheres na Europa vendiam os próprios filhos, ainda crianças, como escravos e prostitutas[12]. Vivemos numa época onde a escravidão foi banida em quase todos os lugares do mundo.
Que amor por todas as pessoas possuíam os legisladores ao longo de milhares de anos, que promulgaram que somente homens adultos que possuíam terras eram imbuídos de direitos constitucionais? Onde estava o vibrante amor pelas mulheres que foram desprezadas e tratadas de maneira inferior ao longo de milhares de anos? Muitos direitos só foram conquistados no tempo moderno. O que se dizer sobre os protocolos das guerras antigas, inclusive o modo de proceder em caso de rendição inimiga? Revelavam grande compaixão por seus irmãos?
Em que outro momento da história houveram incontáveis movimentos sociais, compostos de pessoas amorosas agindo local ou globalmente, para salvar vidas, curar doenças, abençoar os aflitos, ajudar em catástrofes naturais, promover a paz e proteger o meio ambiente?
O grande filósofo Sir Roger Scrutton escreveu: “uma das coisas mais tristes dos dias atuais, talvez um resultado da televisão, é que as pessoas possuem apenas uma pequena lasca do presente, que carregam consigo para onde quer que vão. E não há nada nelas que reverbere os séculos”[13]. Em nossa necessidade de justificar equivocadamente o presente, podemos negligenciar o passado.
5. Conclusão.
O propósito dos pontos acima não é desmerecer as profecias da Segunda vinda de qualquer maneira. Mas é alertar a respeito do perigo de arrogar para nós o título de profeta e começar a fazer previsões equivocadas sobre o futuro próximo. Muito mais do que tentar adivinhar o momento da volta de Cristo, o grande ensinamento dos vários problemas enfrentados hoje na humanidade é aquele dado por Amuleque[14]: Essa vida é o tempo de preparação. Apesar de não sabermos quando será a volta de Cristo, nosso tempo na terra pode encerrar a qualquer momento, pois não sabemos o dia de nossa morte. Estaremos preparados para encontrar nosso Criador? A medida que nos concentrarmos nessa lição, bem como a buscar ajudar nosso próximo nesses momentos de crise, a tentação de fazer previsões apocalípticas cessará, e seremos confortados pela doce certeza de que tudo irá bem aos que forem fieis ao Senhor.
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REFERÊNCIAS
[1] Essas profecias incluem a chegada do Evangelho em todo o mundo, a reunião do povo do Senhor na Palestina, diversos fenômenos naturais de maneira seguida e concentrada, a morte de dois servos do Senhor na Palestina, que ressuscitarão depois de três dias, etc.
[2] DeC 45:26;
[3] https://ourworldindata.org/war-and-peace , acesso em 15 de março de 2020;
[4] DeC 45:31;
[5] Contagens oficiais da Organização Mundial da Saúde, bem como de outros órgãos competentes foram organizadas no site: https://www.worldometers.info/coronavirus/#countries;
[6] O acesso foi feito em 15 de março de 2020, as 9:20h da manhã;
[7] THOMAS H. MAUGH, "Swine flu danger appears to be ebbing”, Los Angeles Times, March 23, 2010.
[8] "La Grippe Espagnole de 1918", Institut Pasteur, 17 November 2015.
[9] https://www.nationalgeographic.com/science/health-and-human-body/human-diseases/the-plague/, acesso em 15 de março de 2020;
[10] Comunicado oficial da Igreja sobre suspensão das reuniões: https://noticias-br.aigrejadejesuscristo.org/artigo/reuni%C3%B5es-suspensas-temporariamente-em-todo-o-mundo, acesso em 15 de março de 2020;
[11] DeC 45:27;
[12] Robert Barlett, “Inside the Medieval Mind – Power”, 2008;
[13] Roger Scruton, “Beauty and Consolation”, 2000;
[14] Alma 34:22;
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