Como Associar a Visão de Joseph Smith com João 1:18 | Intérprete Nefita

Como Associar a Visão de Joseph Smith com João 1:18


Por Luiz Botelho 17 de Julho de 2018
Como Associar a Visão de Joseph Smith com João 1:18

PERGUNTA:

Como poderia ter Joseph Smith visto a Deus se João 1:18 afirma que o Senhor jamais foi visto por algum homem?

RESPOSTA:

Olá,

Essa é sem dúvida uma das questões mais debatidas quando se analisa o relato da Primeira Visão de Joseph Smith e diversos aspectos da teologia Mórmon e nossa concepção da natureza de Deus.

O versículo em questão afirma:

"Deus nunca foi visto por alguém. O Filho unigênito, que está no seio do Pai, esse o revelou." (João 1:18)

O ponto levantado é válido, mas carece de coerência quando analisado sob a luz de diversas outras passagens das escrituras. De fato, em inúmeras ocasiões o Velho Testamento demonstra de maneira clara ter o Senhor aparecido a muitos de seus servos de maneira direta ou "face a face." Alguns dos exemplos mais conhecidos incluem:

Atos 7:55,56
Gênesis 32:30
Atos 7:2
Êxodo 3:6
Êxodo 19:11
Êxodo 24:10-11
Êxodo 33:11
Números 12:7,8
Deuteronômio 5:4
Deuteronômio 34:10
1 Reis 9:2
1 Reis 11:9
Juízes 13:22
Isaías 6:1,5
Jó 19:26
Jó 33:26
Jó 42:5
Ezequiel 1:1
Ezequiel 8:1-4

Por que então João 1:18 afirmaria que Deus jamais foi visto pelo homem se em tantas passagens exatamente o oposto é afirmado? A contradição é aparente, mas ela é resultado de um provável erro humano no processo de tradução. Irineu, m dos Cristãos proeminentes do segundo século D.C comentou tal passagem afirmando que "Deus nunca foi visto por alguém, 'a menos que' o Filho Unigênito de Deus, que está no seio do Pai O tenha declarado."[1]

A tradução revisada da Bíblia feita por Joseph Smith curiosamente concorda com o sentido apresentado por Irineu:

"E ninguém jamais viu a Deus, sem que ele desse testemunho do Filho; porque a não ser que seja por intermédio dele..."[2]

A utilização das palavras "a menos que" por Irineu e "a não ser que" por Joseph Smith enfatiza o caráter condicional da possibilidade de ver a Deus. O filósofo Judeu Philo enfatizou o próprio significado do nome "Isarel," com os elementos "Ish" 'rah" e "El" que significa "O homem vendo à Deus."[3] As escrituras, entretanto, ensinam que o corpo humano de fato necessita de uma espécie de transformação para suportar ou compreender o que vê quando na presença de um ser normalmente descrito com inúmeras referências à luz inestinguível e fogo consumidor.

D&C 67:11 ensina:

"Pois em tempo algum, na carne, o homem viu Deus, a não ser vivificado pelo Espírito de Deus."

D&C 84:22:

"Pois, sem isso, (o poder da divindade mencionado no verso anterior) nenhum homem pode ver o rosto de Deus, o Pai, e viver."

Relatos contemporâneos da visão de Joseph Smith declaram ainda ter Deus, o Pai "tocado" os olhos de Joseph Smith para que ele pudesse ter a visão, antes de então ouvir, "Este é meu Filho Amado, ouve-O."[4] 

Outro versículo a despertar atenção sobre o assunto é 1 Timóteo 6:16, que afirma:

"Aquele que tem, ele só, a imortalidade, e habita na luz inacessível; a quem nenhum dos homens viu nem pode ver, ao qual seja honra e poder sempiterno. Amém."

Novamente, a análise de alguns detalhes do versículo parece indicar uma possível falha no processo de tradução ou o possível uso de Paulo de uma forma escrita poética chamada Doxologia, uma antiga forma poética de adoração. As possíveis inconsistências do verso incluem:

Aquele que tem, ele só, a imortalidade: O versículo não poderia estar se referindo a Deus caso entendamos que Ele é o único a possuir a imortalidade. Cristo também ascendeu à imortalidade e o Espírito Santo também não pode morrer. De fato, quase todos os Filhos de Deus em algum momento herdarão a imortalidade. 

A quem nenhum dos homens viu nem pode ver: Como demonstrado anteriormente, diversas passagens bíblicas atestam o fato de que Deus foi sim visto por inúmeros servos. O verso também não poderia ser interpretado como se referindo a Cristo, por ter Ele vivido entre os homens e revelado sua identidade pessoalmente.

Conclusão

Dessa forma, fica evidente que a interação direta entre Deus e seus servos aconteceram em diversas ocasiões do passado e também em tempos modernos. Uma questão comum a ser levantada em consequência disso é se todos os profetas e apóstolos modernos possuem igualmente contato direto com o Senhor. Embora em nossa cultura tendamos a imaginar isso como uma regra ou algo rotineiro, poucas são as ocasiões em que líderes modernos da Igreja afirmaram terem recebido interações diretas, o que demonstra que embora profetas sejam capazes de ver a Deus ou Cristo se a situação exigir, essa não constitui uma regra ou fator determinante para o chamado profético. 

As escrituras mencionam uma infinidade de profetas com missões grandiosas cujos registros não necessariamente afirmam terem eles visto à Deus. Em um serão recente que tive a oportunidade de participar com o Elder Oaks, do Quórum dos Doze Apóstolo, um jovem perguntou de que maneira ele recebia revelações de Deus. Elder Oaks em resposta afirmou que a maioria das revelações que já havia recebido aconteceram de maneira similar a de qualquer outra pessoa: impressões e sentimentos que são mais fáceis de serem falados do que descritos. 

Abraço,

Referências:

[1] Irenaeus, "Against Heresies," in Chapter 6 Ante-Nicene Fathers, edited by Philip Schaff (Christian Literature Publishing Co., 1886)1:427.
[2] Tradução de Joseph Smith da Bíblia, João 1:19
[3] Charles A. Gieschen, Angelomorphic Christology: Antecedents and Early Evidence (Leiden; New York; Köln: Brill, 1998), 139
[4] Karl Larson and Katharine Miles Larson, eds., Diary of Charles Lowell Walker (Logan, UT: Utah State University Press, 1980), 2:755–56 [recorded 2 February 1893]
 



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