PERGUNTA:
RESPOSTA:
Esse é certamente um dos conflitos mais relevantes no que diz respeito ao debate contínuo entre ciência e religião. Parte desse conflito se inicia com um mal entendimento do que a teoria da evolução ensina e parte de uma tendência em interpretarmos literalmente escrituras que não foram escritas com esse propósito.
Diante do aparente conflito entre evolucionismo e criacionismo um indivíduo geralmente se depara com o que a filosofia descreve como a falácia do falso dilema, que acontece quando 2 alternativas são apresentadas como se fossem as únicas opções. Tais posições são:
A. Posição religiosa tradicional:
As escrituras ensinam que Deus criou cada animal de maneira separada e que eles se multiplicaram segundos suas espécies. Portanto, a teoria da evolução não pode estar correta.
B. Posição cética tradicional:
A teoria da evolução possui muitas evidências e pode ser comprovada em diferentes áreas de estudo. Portanto, o criacionismo bíblico não pode estar correto.
Na posição religiosa tradicional encontramos os seguintes problemas:
a. A crença tradicional tende a atribuir quase total literalidade ao registro escriturístico, quando frequentemente aceitamos partes dele como simbólicos. Ex: a serpente falando, a mulher sendo criada através de uma vértebra do homem, o homem sendo criado do barro, etc.
b. A crença tradicional ignora e classifica como falsa qualquer evidência científica que demonstre apoio à evolução das espécies.
c. A crença vê o evolucionismo como uma ameaça à Deus, como se a teoria eliminasse a necessidade de um Deus.
Na posição cética tradicional, por outro lado, temos os seguintes problemas:
a. O cético tradicional conclui que a evolução é uma prova de que Deus não existe.
b. O cético também tende a atribuir total literalidade ao registros escriturístico, quando a linguagem poética da época frequentemente se refletia em textos essencialmente simbólicos.
A Igreja oficialmente (e sabiamente) não possui uma posição oficial sobre o assunto, embora muitos de seus líderes tenham adotado uma posição a favor e contrária à teoria.
O Presidente Gordon B. Hinckley atestou esse fato ao declarar:
"O que a Igreja requer é unicamente a crença de que Adão foi o primeiro homem do que nós chamamos raça humana. Cientistas podem especular sobre o resto."[1]
Evolução Teísta
Embora indivíduos, religiosos ou não, tendam a ver estas duas opções como as únicas, a realidade é que há, de fato, uma terceira opção, adotada tanto por membros da Igreja como por alguns de seus líderes no decorrer do tempo. Tal posicionamento é normalmente chamado de “evolução teísta”, ou em outras palavras, a crença de que a evolução foi o mecanismo natural criado e utilizado por Deus no desenvolvimento das espécies.
Do ponto de vista da teologia da Igreja, a crença na evolução como uma ferramenta natural utilizada por Deus parte dos seguintes princípios:
1. A Igreja não possui posição oficial sobre a teoria da evolução, o que é improvável caso ela a veja como um conceito científico falso e maléfico.
2. Líderes cientistas da Igreja como James E. Talmage (apóstolo e geólogo), B. H. Roberts (apóstolo e historiador) John Widtsoe (apóstolo e químico), Frederick J. Pack (geólogo e presidente do comitê de doutrina do evangelho) acreditavam e se posicionaram a favor da teoria da evolução.[2]
3. A ordem de eventos no desenvolvimento da vida descrita em Gênesis é a mesma da descrita na teoria da evolução: A vida surgiu primeiro nas águas, depois na vida réptil e em seguida aves e mamíferos.
4. Versos escriturísticos como Gên 1:11,24 e Abraão 4:11 parecem fazer mais sentido sob a luz de um Deus cientista, que cria e utiliza leis naturais em seus desígnios, do que um Deus mágico, que simplesmente estala os dedos para criar.
5. O conceito de evolução é um dos aspectos mais fundamentais do evangelho. O próprio Plano de Salvação descreve como seres evoluem de inteligências primordiais à exaltação, em um processo similar à seleção natural.
6. Existe, de fato, milhares de evidências científicas de diferentes campos a favor da evolução.
Conclusão
Dessa forma, é importante salientar que a crença na teoria da evolução como um meio utilizado para um fim, não diminui ou elimina o papel de Deus na criação, mas o exalta. Inconsistências são frequentemente encontradas quando dados científicos ou doutrinários são interpretados fora de contexto ou quando adotamos uma crença como premissa inicial ao invés de validá-la à luz das evidências existentes.
Para uma análise completa sobre a teoria da evolução sob uma perspectiva Mórmon, clique aqui.
Referências
[1] Gordon B. Hinckley in 2002; cited in Elaine Jarvik, "Beliefs on Darwin's evolution vary from religion to religion," Deseret Morning News (19 January 2006)
[2] Uma análise de tais referências pode ser feita no artigo “Mórmons, Macacos e a Teoria da Evolução”, também publicado pelo Intérprete Nefita.
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