PERGUNTA:
RESPOSTA:
Olá Antônio,
Sendo a doutrina da Igreja de Jesus Cristo dos Santos dos Últimos Dias fundamentada na ideia de uma restauração, é natural que objeções sejam levantadas a respeito da validade da premissa inicial de que a Igreja original de fato caiu em apostasia. Em outras palavras, se for possível desconstruir o ensinamento de que a Igreja de Cristo caiu em apostasia, será igualmente possível desconstruir a necessidade que havia de uma restauração, e consequentemente, de tudo o que ela nos trouxe.
O problema, entretanto, dessa linha de raciocínio, é que a própria Bíblia contém evidência suficiente para atestar o fato de que um gradual afastamento da verdade ocorreu no primeiro século após Cristo. Analisemos algumas dessas evidências:
1. 2 Tessalonicenses 2:1-3 adverte os santos a permanecerem inamovíveis no entendimento, para que não "se pertubassem, como se o dia [da vinda] de Cristo estivesse próximo." O versículo 3, entretanto, torna claro que a vinda de Cristo não aconteceria, sem antes haver uma apostasia.
2. Amós 8:11-12 se refere à um tempo de "fome espiritual" na terra, onde indivíduos "correriam por toda a parte, buscando as palavras do Senhor," mas não a achariam. O capítulo contém elementos simbólicos e literais e não é absolutamente claro a que época se refere, mas oferece uma profecia que dá contexto e torna plausível os eventos que sucederam a morte de Cristo e culminaram em uma apostasia generalizada.
3. Em Atos 20:29-30 Paulo declara que após sua partida se daria o início de uma apostasia interna, onde "lobos cruéis" se introduziriam no rebanho a fim de atrair discípulos.
4. Daniel 2:44 é frequentemente citado como evidência contra o conceito de uma apostasia generalizada, quando afirma que "o Deus do céu levantará um reino que não será jamais destruído; e este reino não passará a outro povo; esmiuçará e consumirá todos esses reinos, mas ele mesmo subsistirá para sempre." Mateus 21:43, em contrapartida, torna claro que o reino visto por Daniel não era a verdade e Igreja organizada por Cristo, pois essa seria retirada dos Judeus e dada a uma nação que produziria seus frutos, o que gera uma alusão direta e harmoniosa com o relato do Livro de Mórmon de que a Igreja prosperou na América enquanto se degradava no Velho Mundo.
5. 2 Pedro 2:1-2 afirma que "falsos profetas e falsos doutores" introduziriam "heresias de perdição" entre os fieis com a afirmativa de que muitos os seguiriam e de que o caminho da verdade seria "blasfemado."
6. 2 Pedro 3:16 se refere também à distorção das escrituras, que como parte do processo de apostasia, ocorreu e continuou a ocorrer desde os dias posteriores ao início da Igreja organizada.
7. Isaías 24:5 profetiza a respeito da "transgressão das leis, mudança dos estatutos e quebra da aliança eterna." que Hebreus 13:20 evidencia se tratar do Evangelho de Cristo, ao invés da Lei Mosaica, que não era eterna, mas foi dada em preparação.
8. Miquéias 3:4-7 menciona o que seria uma espécie de pôr do sol para os profetas, o qual indiretamente se harmoniza com a ideia de que por algum tempo profetas deixariam de existir.
9. Atos 3:19-20 contém ao menos 3 elementos cruciais para a ideia e necessidade de uma futura restauração:
a. Uma advertência aos santos para que se arrependessem.
b. Tal preparação deveria se dar para os "tempos de refrigério da presença do Senhor."
c. Jesus (que nesse verso já havia morrido e ressuscitado) seria enviado, em clara menção à Segunda Vinda.
d. Os céus deveriam "conter" a segunda vinda de Cristo, até os tempos "restauração de todas as coisas."
A questão é... Como seria possível "restaurar" algo que não havia se deteriorado ou perdido?
10. Não há evidências históricas que atestem a ideia de que a autoridade do sacerdócio, como conferida aos Doze Apóstolos, foi conferida a outros. De fato, a perseguição externa, unida à apostasia interna introduzia corrupção aos ensinamentos puros do Evangelho ao passo que eliminava gradualmente aqueles que haviam sido chamados para dirigir o ministério. Roma posteriormente adotaria o Cristianismo como religião oficial do estado e abriria caminho para a criação de um império religioso que conduziria com mão de ferro o mundo por muitos séculos e culminaria em dissensões que desencadeariam a criação de muitos credos e Igrejas com a reforma protestante.
Fica evidente dessa forma que Jesus Cristo não poderia estar se referindo à Igreja organizada na terra ou a Pedro, quando disse que "as portas do inferno não prevaleceriam contra ela," visto que de fato, a perseguição prevaleceu contra a Igreja de Cristo da época e também a Pedro e ao apostolado. As escrituras evidenciam também a ideia de que durante os três dias em que esteve morto, Cristo "pregou aos espíritos em prisão" (1 Pedro 3:19; 1 Pedro 4:6), o qual profetas modernos atestaram se tratar da organização formal da Igreja no mundo espiritual. Nesse sentido, de fato o "inferno" (no contexto escriturístico frequentemente sinônimo de 'sepultura') não prevaleceu, visto que esperança de ressurreição e salvação era estendida também aos mortos.
Dessa forma, torna-se claro que a posição ousada do Evangelho Restaurado em declarar a existência de uma apostasia posterior a Cristo não é nada vulnerável, mas solidamente apoiada pelas escrituras e fatos históricos, não apenas dando margem, mas tornando crucial à existência de uma restauração.
Abraço,
IntérpreteNefita
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